1 Ao anjo da igreja em Éfeso escreva: Estas são as palavras daquele que tem as sete estrelas em sua mão direita e anda entre os sete candelabros de ouro.
2 Conheço as suas obras, o seu trabalho árduo e a sua perseverança. Sei que você não pode tolerar homens maus, que pôs à prova os que dizem ser apóstolos mas não são, e descobriu que eles eram impostores.
3 Você tem perseverado e suportado sofrimentos por causa do meu nome, e não tem desfalecido.
4 Contra você, porém, tenho isto: você abandonou o seu primeiro amor.
5 Lembre-se de onde caiu! Arrependa-se e pratique as obras que praticava no princípio. Se não se arrepender, virei a você e tirarei o seu candelabro do seu lugar.
6 Mas há uma coisa a seu favor: você odeia as práticas dos nicolaítas, como eu também as odeio.
7 Aquele que tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas. Ao vencedor darei o direito de comer da árvore da vida, que está no paraíso de Deus.
Traçando Conexões
Estamos começando hoje a carta para a primeira das sete igrejas, a igreja de Éfeso. Dividiremos este estudo em duas partes. A Parte 1 tratará da visão histórica de Éfeso e também do que a Bíblia nos diz sobre essa igreja. Quando estudamos essas cartas, é importante entender o contexto em que esses cristãos viviam. Desta forma, podemos ter uma ideia de como era sua cultura e sociedade, e assim compreender como eles teriam entendido a carta quando foi lida para eles no século I. A Parte 1 abordará a visão histórica da cidade e também o que a Bíblia nos diz sobre essa igreja.
Na Parte 2, vamos examinar todos os aspectos da carta formatada. Falamos do formato das cartas no Estudo #12. A Parte 2 abordará os detalhes da mensagem, a visão histórica da igreja e aplicação profética.
Este será o caso para as outras seis igrejas também. Cada uma das igrejas terá um estudo em duas partes, exceto Tiatira, que terá 3 partes. Vamos começar!
Parte 1 Parte 2
PARTE 1
Visão Detalhada
*** História ***: Éfeso ficava a cerca de 96,5 km de Patmos e era a cidade mais importante do Império Romano, além de Roma. Era a capital da Ásia Menor. O nome da cidade significa 'Desejada'. Éfeso era uma metrópole muito moderna e tinha um dos melhores portos da região. Também possuía uma biblioteca muito grande (Biblioteca de Celso), o Grande Teatro, um edifício impressionante que podia acomodar 25.000 pessoas, e um menor, que acomodava cerca de 1.500 (o Odeão). Os historiadores estimam uma população de até 225.000 habitantes. Algumas das amenidades da cidade incluíam: água encanada (sistema avançado de aqueduto), sistema de esgoto, piscina aquecida nas casas de banho, incluindo piso aquecido, banheiro público com mecanismo de descarga, sistema de ar refrigerado nas casas de maior poder aquisitivo, entre outras coisas. A cidade era um centro comercial e intelectual poderoso. Possivelmente o marco mais importante da cidade era o templo da deusa pagã Ártemis de Éfeso (ou Diana), que era adorada por toda a Ásia (Atos 19:27). O templo de Ártemis oferecia o direito de asilo. Isso significava que qualquer criminoso que conseguisse chegar nas proximidades do templo antes de ser preso estaria livre. Então, não só o templo se tornou um depósito de artefatos valiosos, mas também um local favorito dos foragidos da lei. O templo de Ártemis não era o único templo pagão da cidade. Lá havia também o templo de Júlio César, o templo de Augusto, e o templo de Domiciano. O culto pagão era uma coisa muito em voga na cultura dos efésios. Vários cidadãos praticavam ocultismo (Atos 19:19), e o comércio local tirava vantagem dessas crendices pagãs e as tornavam em uma grande fonte de renda (Atos 19:23-27). Qualquer ameaça ao comércio associado ao culto pagão afetaria muito a situação econômica da cidade.
*** Visão Bíblica ***: É em meio dessa sociedade extremamente pagã que encontramos a igreja em Éfeso. Em sua rápida visita a Éfeso, enquanto viajava de Corinto para Antioquia, Paulo foi direto à sinagoga pregar para os judeus. Esse primeiro encontro foi muito positivo, e eles pediram a Paulo que ficasse mais um pouco. Paulo não pôde ficar, mas prometeu que iria voltar (Atos 18:21). Ele deixou seus amigos Priscila e Áquila a cargo de continuarem o ministério. Eles foram o ponto de partida da igreja em Éfeso, e os membros se reuniam em sua casa (1 Coríntios 16:19). Foram também Priscila e Áquila que ensinaram o evangelho por completo a um pregador judeu chamado Apolo, que acreditava em Jesus. (Atos 18:24-28). Eventualmente, Paulo voltou a Éfeso. Lá ele passou mais de dois anos pregando a judeus e gregos (Atos 19:10), e fortalecendo a igreja. Quando os judeus na sinagoga não queriam mais ouvir a mensagem, Paulo passou a dar suas palestras em uma escola, e lá ensinava a Palavra de Deus diariamente (Atos 19:9). O ministério de Paulo progrediu muito, e logo, várias pessoas que antes praticavam artes mágicas fizeram, na cidade, uma fogueira com os livros de magia, que valiam uma fortuna (Atos 19:19). O crescimento da igreja começou a afetar a economia local, e um ourives chamado Demétrio ajuntou vários membros da profissão para discutir a queda e iminente crise na venda de artefatos e souvenirs de Ártemis, e potencial descrédito da sua deusa (Atos 19:23-27). Esse debate cresceu tanto que tiveram que transferi-lo para o teatro, e mesmo assim estavam correndo risco de serem acusados de perturbar a ordem pública. A confusão da assembleia teve que ser controlada pelo escrivão da cidade (Atos 19:32-41)
Os teatros
Existem duas estruturas de teatro em Éfeso, o Grande Teatro
e o menor Odeão (Bouleuterion).

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Atribuição: Norman Herr, Public domain, via Wikimedia Commons, original aqui
Algum tempo depois, enquanto na prisão, Paulo escreveu uma carta à igreja em Éfeso, que hoje é o livro de Efésios, na Bíblia. Nessa carta, ele fala sobre a alegria da unidade e de relacionamentos. Isso faz sentido, uma vez que a congregação em Éfeso é uma mistura de “judeus e gregos”. Escrevendo à igreja, Paulo parabeniza os efésios pela sua fé no Senhor Jesus e seu amor a todos os escolhidos de Deus (Efésios 1:15). Nessa mesma carta, Paulo escreveu uma oração importante, que era também uma mensagem aos efésios. Parte dessa oração foi bem específica, e mencionou a questão que João descreveu depois. Lemos em Efésios 3:17-19: "para que Cristo habite em seus corações mediante a fé; e oro para que vocês, arraigados e alicerçados em amor, possam, juntamente com todos os santos, compreender a largura, o comprimento, a altura e a profundidade, e conhecer o amor de Cristo que excede todo conhecimento, para que vocês sejam cheios de toda a plenitude de Deus.” E em Efésios 5:6-7, Paulo alerta a igreja: "Ninguém os engane com palavras tolas, pois é por causa dessas coisas que a ira de Deus vem sobre os que vivem na desobediência. Portanto, não participem com eles dessas coisas.” Paulo termina sua carta aos Efésios dizendo: "Paz seja com os irmãos, e amor com fé da parte de Deus Pai e do Senhor Jesus Cristo. A graça seja com todos os que amam a nosso Senhor Jesus Cristo com amor incorruptível.”(Efésios 6:23-24).
Em sua carta a Timóteo, Paulo sente que precisa aconselhar a igreja sobre um assunto importante. 1 Timóteo 1:3-7 tem uma mensagem-chave de Paulo a respeito da condição da igreja em Éfeso, e Paulo está chamando Timóteo para ajudar a igreja: "Partindo eu para a Macedônia, roguei-lhe que permanecesse em Éfeso para ordenar a certas pessoas que não mais ensinem doutrinas falsas, e que deixem de dar atenção a mitos e genealogias intermináveis, que causam controvérsias em vez de promoverem a obra de Deus, que é pela fé. O objetivo desta instrução é o amor que procede de um coração puro, de uma boa consciência e de uma fé sincera. Alguns se desviaram dessas coisas, voltando-se para discussões inúteis, querendo ser mestres da lei, quando não compreendem nem o que dizem nem as coisas acerca das quais fazem afirmações tão categóricas.” Paulo estava preocupado com os falsos ensinamentos surgindo de membros dentro da igreja. Ideias e comportamentos falsos começaram a permear a congregação. Possivelmente ele poderia estar falando dos Nicolaítas, o grupo mencionado em Apocalipse 1:6.
*** Os Nicolaítas ***: Vemos um grupo chamado de nicolaítas mencionados pelos primeiros escritores cristãos, como Irineu e Hipólito. De acordo com eles, os nicolaitas eram seguidores de Nicolau da Antioquia. Ele era um convertido ao judaísmo, e foi escolhido como um dos sete diáconos na formação da igreja (Atos 6:5). De alguma maneira, Nicolau, que era visto como sendo “cheio do espírito e de sabedoria” (Atos 6:3), se afastou da verdade e se tornou o fundador de doutrinas de heresia. A igreja em Éfeso aparentemente havia rejeitado as doutrinas dos Nicolaítas (Apocalipse 2:6), mas a igreja em Pérgamo parecia ter alguns membros que apoiavam os ensinamentos desse grupo (Apocalipse 2:15). Mais adiante, na mensagem a Pérgamo, podemos ver a conexão entre os Nicolaítas e o grupo dos que “se apegam aos ensinos de Balaão” (Apocalipse 2:14-15). Ambos os grupos estavam ensinando de maneira semelhante coisas diretamente opostas à verdadeira mensagem de Deus. Então vamos checar a etimologia desses dois nomes. Nicolau, do grego Nicolaos (nikaō + laos) significa “conquistador do povo”. E Balaão, do hebraico baal + am, que significa “destruir” ou "engolir” o povo. Na igreja de Tiatira, vemos mais uma falsa profetisa que está levando os servos de Deus a falsas doutrinas: Jezabel (Apocalipse 2:20). Pouco provavelmente existia ali na igreja membros chamados Balaão ou Jezabel. Vemos essas duas pessoas, Balaão e Jezabel, no Antigo Testamento. Então vamos procurar no Antigo Testamento e entender o simbolismo dessa referência através da história deles.
- Balaão: Balaão não era israelita, e era um infiel profeta de Deus. Ele era de Petor, na Mesopotâmia (Deuteronômio 23:4). Balaque, Rei de Moabe, contratou Balaão para amaldiçoar os israelitas enquanto acampavam perto de Moabe. Através de intervenção divina, Balaão não pôde amaldiçoá-los, e ao invés disso por 3 vezes os abençoou (Números 23 e 24). Balaque ficou furioso. Já que Balaão não podia verbalmente amaldiçoar os israelitas, Balaão encontrou outra maneira de trazer uma maldição sobre Israel. 2 Pedro 2:15-16 diz que Balaão “amou o salário da injustiça”. Ele fez com que o povo de Israel fosse levado "a ser infiel ao Senhor no caso de Peor, de modo que uma praga feriu a comunidade do Senhor” (Números 31:16). O incidente em Peor está descrito em Números 25:1-9, quando mulheres moabitas seduziram os homens de Israel. "O povo começou a entregar-se à imoralidade sexual com mulheres moabitas, que os convidavam aos sacrifícios de seus deuses. O povo comia e se prostrava perante esses deuses.”(Números 25:1-2). Agora podemos entender melhor Apocalipse 2:14-15, onde fala sobre aqueles que “se apegam aos ensinos de Balaão”. Esses ensinos estimulavam o povo de Deus a quebrar a Lei de Deus ao adorar ídolos e cometer adultério. Em Miquéias 6:5, lemos que Deus convida Seu povo a nunca se esquecer desse episódio com Balaão, para que nós possamos reconhecer “que os atos do Senhor são justos”.
- Jezabel: ela era uma princesa da Fenícia, que se casou com Acabe, rei de Judá (reino do norte de Israel) (1 Reis 16:29-33), no tempo do profeta Elias. Ela adorava a Baal, e influenciou seu marido a abandonar o Deus verdadeiro. Acabe também começou a adorar a Baal (1 Reis 16:31), promovendo mais ainda a idolatria entre os israelitas. Acabe, depois que se voltou à idolatria, "provocou a ira do Senhor, o Deus de Israel, mais do que todos os reis de Israel antes dele” (1 Reis 16:32-33; 21:25). Num dado momento, Jezabel começou a matar os profetas do Senhor (1 Reis 18:4), e também ameaçou matar o profeta Elias (1 Reis 19:2). Foi enganando, mentindo, e traindo que ela manipulou as pessoas à sua volta, inclusive seu marido; e por causa disso, Deus trouxe desgraça sobre eles (1 Reis 21:1-23). Agora podemos entender Apocalipse 2:20. Assim como Balaão foi a razão pela qual os israelitas se envolveram em idolatria e fornicação, Jezebel foi a razão pela qual o rei israelita “se vendeu para fazer o que o Senhor reprova” (1 Reis 21:25), e se voltou para a idolatria. Acabe consequentemente se envolveu também com todos os rituais associados com o culto pagão, e como rei, levou o povo de Deus a se comportar da mesma maneira.
Por toda a Ásia Menor, o Império Romano exigia que as pessoas jurassem lealdade ao Imperador, reconhecendo sua divindade. Além disso, os diferentes profissionais eram obrigados a prestar homenagem aos seus deuses específicos como parte de suas boas práticas comerciais. Era difícil ser um cidadão cristão, ou um empresário cristão, e ainda assim se manter separado das práticas pagãs sociais. Eles enfrentavam uma escolha: permanecer fiéis à verdade ou fingir que o paganismo social não afeta a vida espiritual de uma pessoa. Os Nicolaítas provavelmente estavam ensinando às igrejas na Ásia uma versão moderna das filosofias pagãs de Balaão e Jezabel. Eles incentivavam o comprometimento e a adaptação das verdadeiras doutrinas de Deus para facilitar o cumprimento de seus deveres cívicos pagãos, dando a impressão de que tais filosofias não conflitavam realmente com os ensinamentos do Evangelho. Isso, por si só, é uma ilusão, porque não importa o quanto você distorça e adapte a verdade para justificar um comportamento errado, o comportamento errado ainda é pecado, mesmo quando as pessoas mentem para si mesmas para tentar se sentir melhor sobre suas escolhas.
Visão Geral
Podemos ver que Éfeso teve sua parcela de verdadeiros profetas, pregadores incompletos e falsos mestres. Desde o estabelecimento da igreja, os membros precisaram avaliar e reagir ao que estava sendo apresentado nos círculos sociais e religiosos de sua cidade. Áquila e Priscila fizeram isso com Apolo, cuja mensagem, embora verdadeira, estava faltando alguns pontos-chave. Os membros da igreja também precisaram avaliar os ensinamentos dos livros de feitiçaria, e, uma vez que entenderam que eram falsos, não hesitaram e os queimaram todos. Timóteo teve que lidar com os falsos mestres vindos de dentro da própria igreja, a fim de restaurar o amor. Esta igreja estava em sério perigo de se tornar apenas um grupo de pessoas, como Paulo disse, que discutiam com confiança sobre coisas que na verdade não conheciam, promovendo "discussões inúteis" (1 Timóteo 1:6). Quando João começou a escrever as cartas, a Igreja em Éfeso já havia compreendido o conceito de verdadeira doutrina e como reconhecer falsos mestres (Apocalipse 2:2). Mas parece que o objetivo de Paulo de restaurar o amor não havia sido alcançado (Apocalipse 2:4). Eles não estavam demonstrando o "amor incorruptível" que Paulo havia mencionado a eles antes. Como podemos ver, a questão do amor não era um novo tópico para eles. Eles já sabiam que ter uma doutrina completa sem amor é o mesmo que não ter nada.